segunda-feira, 24 de agosto de 2015

há um ano e meio sem álcool, eu pensei: parei de beber para não evaporar. o que fode são as nuvens, eu me digo, esse dia nublado, essa paisagem sem moldura a que chamamos realidade. tô há um ano e meio sem beber, mas não posso dizer sóbrio. a loucura só não habita mais nas garrafas: ela é toda e livre aqui bem dentro, explodindo de hora em hora, fazendo o que quiser de mim.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

não vou te mentir: não sei dar nó de forca. mas nó de gravata eu sei. faço, refaço, me sinto um adulto mostrando prum menino (os dois são eu, o menino e o adulto) como se esticam as pontas, como se calcula a altura, como passa, repassa, transpassa e tá feito.

me ensinaram assim e eu repito.

me ensinaram a ser como eu sempre me soube sendo. mas cansei. porque acabaria tendo de aprender a fazer nó de forca. mas depois que se aprende, não se passa adiante. então lembrei da gravata, do nó de gravata, da vida feita nó e em nós mesmos.

e foi assim que foi.

segunda-feira, 31 de março de 2014

deda,

já não sei mais o que houve nem a causa de ter estado tanto tempo em mim, somente em mim, noites inteiras, dias inteiros, noites que viravam dias no meu dia-a-dia nublado.

me punia por somente ter sido.

agora o conhaque é chá, embora respire ainda toda minha vida nos meus cigarros.

mas já me deixo abraçar e ser abraçado. amar e ser amado. sorrir.

senti saudade tua, mas sabia que tu voltarias. não sei nem exatamente porquê.

só sabia.

[será porque assim é a vida?]

(tô te enviando meias de lã de sol, cachecóis de sonhos sustenidos e mantas feitas de abraços de reencontro. sobreviverás ao inverno; sobreviveremos

somente estando.
somente sendo).


Marcelo,
aqui o inverno chegou cedo.
Sinto pelas palavras úmidas que este ano vai ser de lascar.
Mande notícias do teu cenário.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

vim te dizer que tanto faz todas as vezes que sumirmos. isso aqui é um corte no espaço-tempo, buraco sem fundo, minhas idéias me tiram o sono, meu coração caminha da mãos dadas comigo, sejamos ou estejamos amigos - ou não.

vim porque li do teu olho gelado num texto que escrevi sei lá quando, eram tempos duros. não sei o que foi que perdi nesse meio tempo, de sei-lá-quando até aqui. acontece que. acontece que não importa o quanto tenha perdido: o retorno de saturno fez em mim marcas que até então não podiam ser vistas.

vim te dizer que desde lá, desde aquele frio, o hemisfério sul esquentou porque é primavera, afinal, todo mundo sabe, mas não: é sempre frio quando se permite que seja: abraço minhas mãos e sopro nelas com bafo quente: eu também preciso de calor.

no fim, bateu uma saudade. eu sei que é tudo corrido. eu mesmo não olho onde piso. mas de qualquer forma há o texto pra fazer encontrar. o texto, deda. esse aqui.

um abraço e um beijo.


terça-feira, 30 de julho de 2013


despalavrou-se
e nua
pôde encontrar-se

ser mar
ser lua
ser rua

buscar-se

sábado, 27 de julho de 2013

era tão cheia de 9 horas
que nunca chegaria
a 10

e eu
de tantas 9 horas
dela
não era difícil
não ter
cruzeiro
não era difícil
não ter
cruzado
não era difícil
não ter
trocado
as mãos
pelos pés.


terça-feira, 23 de julho de 2013

Sim, está frio lá fora.
Disseram que hoje pode chegar a zero grau.

E tua frieza? Normalmente atinge a mínima de quantos graus?
não trago as mãos nos bolsos nessa manhã cinza de tanto frio.

trago as mãos no peito.

porque o único de mim quente hoje é o coração.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

uma escarradeira de ouro ou de porcelana. de barro. onde coubessem todos os suspiros que os cigarros me levaram e deixaram o óbvio: o escarro.

eu tinha uma canção na ponta da língua hoje cedo. o violão desafinado, os dedos gelados, a preguiça duma segunda-feira que tem em si todo o inverno. percebe? deixei escapar pra nunca mais. era uma bela canção que falava de um passo a frente, um passo atrás, tu és sempre tu, não tem pra onde correr.

eu sou sempre eu. correr pra quê?

pra onde ir? pra onde?

café até os olhos não conseguirem mais focar, chico buarque até não conseguir mais me concentrar em marx nem em coisa nenhuma que faça algum sentido concreto.

o sorriso radiante de raquel pra me dizer que somos gente, ela e eu. eu sou gente também, sabia?! foda-se o inverno se tenho café, chico buarque e raquel pra me sorrir à tarde.

a poesia que ocupe o lugar dela, seja onde e como for. a poesia, cansativa, que se ocupe de si mesma e nos dê o nosso ópio, nosso óbvio, nossos nós. a gente se ata e se desata lendo, escrevendo e sonhando.

acordei suado e pensei que fosse o calor dela. não era.

não era, não.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

não importa há quanto tempo tenha sido, o que importa é. a gente aprende? em hum mil novescentos e noventa e um dona ana abandonou a turma para, sei lá, parir. talvez. nem porquinho-da-índia, nem as gêmeas joice & jéssica: dona ana foi minha primeira namorada.

muitos anos depois eu escreveria minhas resoluções de ano novo a partir da praia da pinheira, que deveria ter dedicado à ligia ou dediquei, não sei mais. dizia assim:

Voltar a ver o mar logo; vê-lo no inverno também.

Esquecer fulana e beltrana: se acumulam com o tempo.

Dizer o que tiver de ser dito a quem realmente tiver ouvidos.

Não entristecer à toa, não me entristecer à toa.

Aprender a viver sozinho, verdadeiramente sozinho.

Abrir mão de comemorar datas tristes.

Aprender a comer.

Aprender a dormir.

Evitar lembrar os nomes que se esquecem de se esquecer.

Achar alguém pra dormir junto.


Pinheira, 3 de janeiro de 2009.

jamais voltaria a escrever planos como quem compra batatas e tem de escolher entre as sujas e as mal lavadas. mas se reescrevesse, colocaria ali reencontrar dona ana.
talvez voltando ao início, entenderia o porquê de tudo. de tanto. disso tudo aqui.

domingo, 7 de julho de 2013

...

E de repente percebe que os poros não respiram mais silenciosos.
Percebe o ritmo do desencontro e a beleza na desordem.
De tanto esconder-se cada vez mais para dentro de si,
de tanto si deu até dó.

O coração começou a esvair-se,

Na frente dela, 
o mar,
morto.



quarta-feira, 26 de junho de 2013

foi o millôr quem disse que quando tava todo mundo crente que o brasil ia, daí choveu.

não são as pilhas de roupa que não se lavam sozinhas, não são as toalhas que não secam, não é a fumaça do cigarro que se estende fotograficamente pelo ar.

também não é o frio, o inimigo invisível que mataria joquim ao fim de uma canção de rebeldia e esperança - joquim, que era parte daquele brasil que ia, o mesmo do millôr.

não é dormir tarde lendo marx nem malinowski nem hobbes nem o diabo.

não é nada com o fim de mês, não.

não é nada de nada, na real.

mas eu queria que fosse! ah, como eu queria que fosse algo a que eu pudesse culpar direta e/ou indiretamente pelo que me ocorre todas as noites, todas as manhãs e que ficará turvo durante todo o dia quando, afinal, a vida será vivida com um mínimo de incômodo, prazer ou dor.

eu queria um norte ou uma morte atrás da qual me apoiar. eu diria: porque sim! porque não! por que não? será?

haverá estrelas atrás desse céu tão cinza? sol? haverá mesmo um céu?

não são os sonhos de menino que aprendi cedo a dessonhar. acordar, nunca. caminho livre entre o sono profundo e a realidade imediata, a hora de acordar para ir ao trabalho: uma pasmaceira, na verdade. um bocejar preguiçoso, prolongado.

outro dia alguém disse que eu tinha a cara dos 80's. tenho os dois pés por lá. por aqui, não caminho. salto!

e o outro lado é um lugar muito distante para ser alcançado tão de imediato.



domingo, 16 de junho de 2013

Outra noite em que respirar é como engolir uma lâmina. 
Outra noite de silêncio nas nossas imagens. 
Outra noite em que a palavra me empurra.
Outra noite que não esta.
Outra noite que dura, dura.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Absolvo-te da minha mente
Absolutamente
Pois duvido de ti com toda certeza que tenho.
E eu te mostro minhas fraturas para que possas engessá-las com tuas palavras gélidas.
Te mostro meu olho furado, meu sorriso quebrado.
Eu me reparto contigo.


Em alma, corpo e escuridão.

terça-feira, 11 de junho de 2013

um dia eu cheguei a perguntar se ela nunca sairia de perto.

um dia disse a ela, outro dia, outra ela, que eu nunca lhe tinha dado um presente. eu tinha. uma anel desses que vinham no sorvete-seco. disse-me que, de todos, era o presente mais bonito - dos outros todos que poderiam ter sido.

um dia me sugeri achar alguém pra dormir junto.

e amanhã ainda nem teremos nos conhecido.

(...)

é porque eu tentei não pensar nesse dia que vem e fiquei encucado com o quanto eu tava pensando. vai ver, será como aniversário que a gente-criança anseia, anseia e vai dormir com o cu assado de tanto cagar as besteiras que comeu o dia inteiro, sem parar, pensando que merda isso de festa de aniversário.

é porque o espaço na cama é um hiato.

é porque não bebi hoje, nem ontem, e a vida brilha e quase me ofusca.

é porque vai chover, deda, no dia mais triste de junho.

é porque pareceu natal: festa xarope, gente xarope, musiquinha enfeitadinha e uma lágrima cretina na hora do noite feliz: a tentativa de encontrar na memória um motivo pra crer que aquilo tudo era, foi ou poderia ter sido algo de bom.
Como um ruído ensurdecedor.
Como com dor.

O amor.
Nada mais sou
que uma coruja a cavar toca no cimento.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

uma metáfora, deda:

minha panela de arroz da janta de hoje à noite. tampada. muita água. muito calor.

transbordou.

como eu, que insisto em jogar meu jogo e, antes que perceba, apago o fogo.

sábado, 8 de junho de 2013

Eu deveria ficar quieta.
Mas é que quando eu lembro dela, deslizando comigo nas entrelinhas, as palavras pedem para saltar corpo a fora, e enquanto estacionam-se aqui, completando aquilo que não precisa ser dito, eu penso:

Meu sapato também aperta meu pé e eu  preciso reaprender a andar descalça. 

sexta-feira, 7 de junho de 2013

eu havia querido ficar quieto. eu havia... mas como querer ser quieto hoje em dia?

deixa eu te contar que a vida vai muito bem, obrigado, e se meu sapato por acaso aperta, sem problemas em andar descalço.

(se não consigo ou insisto na coerência é porque tudo é muito rápido nessa contemporaneidade de mentirinha que a gente acha que vive nessa cidade que nos engole, que nos devolve, que nos recome, infinivita e inestinstivamente).

só escrevo pra transbordar e não ser levado a sério.

sozinho. tranqüilo. aéreo.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

eu devia falar sobre esse dia de sol e sobre meu coração instável, meus sonhos instáveis e por isso mesmo tão sonhos assim. quando foi que as coisas perderam o rumo e se tornaram tão importantes? o desimportante a gente deixa embaixo da cama, aquele monstro de que eu me escondia quando bem guri.

o desimportante é como ônibus que vai pro subúrbio em fim de tarde: triste como ele só. e cansado. e cinza. e a gente, que vai lá dentro vendo tudo, absorvendo tudo, espera mesmo é chegar em casa - aquela porta para o mundo [contrassenso, uma casa ser um mundo] - e se importar somente com o que importa.

eu devia falar sobre ansiedade, sobre café forte, sobre saudade pura e simples. a dentição de dover, o sorriso de tele, as sardas de ana, o abraço de raquel, os olhos de estela, a fala de leonardo, edward todo ele, edmar, adriano, aquele marcelo que sou eu mesmo e tantos, tantos outros quando perto de quem.

a gente devia era falar da gente num dia como esse em que tudo parece resolvido. mas pra quê, afinal?

gabriel vai me ajudar com as malas.

dos meus sorrisos, eu mesmo me encarrego.

terça-feira, 28 de maio de 2013

vontade de parar a porra toda!

: a vida em si. parar. parar pra olhar e tentar enxergar nela algo, ponto que seja de razão, amor, afeto ou se nada der certo, alguma racionalidade.

vontade dum abraço incerto, calor que venha de perto com tudo que puder haver de ansiedade.

vou voltar pra minha cidade. portalegre é como um recanto. uma invenção que tenta dar nome pra toda
toda
toda minha saudade.

eu ouço oswaldo montenegro e me emociono como quando era criança. xou da xuxa e a melancolia escorrendo da televisão a válvula. que anos foram esses de hum mil novecentos e noventa?

eu queria abraçar o mundo inteiro, todo o mundo.

mas sentiriam o meu bafo de conhaque e eu me constrangeria a ponto de jamais querer ter re-nascido.

- PÁRA COM ESSA PORRA TODA!

parei.

domingo, 26 de maio de 2013

Agora acompanhada do meu café forte eu penso melhor.
Quando você aprendeu a ouvir meu emaranhado de silêncios?
Me responde e depois faz um curativo

Essa coisa toda,assim coagulada, dói.
Me fale daquela paixão.

-Aquela paixão?Desfrutei com tanta vontade que engoli até as sementes.
Nesta bagunça  adormecem as certezas que um dia tive.
A bagunça é a minha casa.
A minha pausa é um terremoto devastador.
Ás 10 horas da manhã comecei a escrever estas frases. 
São 12 horas.


sexta-feira, 24 de maio de 2013

minha casa cheira a pinho, como a casa de minha infância. os conflitos são outros e acostuma-se a diferenciar casa de lar.

minha casa cheira a pinho como noutros invernos, anos  atrás, embora não lembre que cheiro tinha o quarto 38, talvez que fosse pinho também.

minha casa cheira a verdade ainda que ninguém cheire.

e ela traz promessas de boas vindas.

sejam bem vindos, ela diz. e quem puder ouvir, que veja.


terça-feira, 21 de maio de 2013


abri as janelas, as cortinas, as gavetas. coloquei os cobertores pra tomar sol e ficar com cheiro de sol, sabe como é?

depois de tanto tempo nublado. nublados.

nu, tirei o pó de cada livro da estante, de cada poema engavetado, de cada traço de desejo que pensei não pudesse mais haver.

e no fim, quando era de tarde, veio novamente a chuva.

molharam-se os cobertores, os livros, os poemas, o desejo.

(eu esqueci de fechar novamente o telhado, Deda)

me deixei aberto como uma ferida exposta às infecções da vida.

[vida que tem que ser vivida e eu volta e meia esqueço]

voltar, então, ao começo:

abri as janelas, as cortinas, as gavetas. coloquei os cobertores pra tomar sol e ficar com cheiro de sol, sabe como é?

domingo, 19 de maio de 2013


seria maldade se querer de volta depois de se ter sido mútuo, duplo, alheio?

o amor - ou isso que denominamos, tentamos tanto - é o gostoso de se coçar frieiras dentro das meias de lã que nos impõe o inverno. coça, coça, dói e coça e o maravilhoso que é ter ali as frieiras dentro das meias de lã em inverno a sentir e sofrer sem que ninguém em volta perceba, sem que disse se diga uma palavra: tenho aqui um amor ou tenho aqui minhas frieiras, não sei o quanto se diferem coisa e outra.

outra coisa: eu quero voltar a ser eu próprio, se possível. estancado e inteiro, com todos os meus membros de volta.

meu suor suado.
meu sorriso sorrido.
minhas tripas.
meus pêlos.
minha saliva falada.
minha porra gozada.
minhas palavras.

preciso sobretudo de minhas palavras. as ditas em êxtase ou ao pé do ouvido em domingo de manhã.

nem discos, nem livros, nem nada. só as palavras.